Vamos arrastar os acontecimentos do grande plano para o pequeno plano: de Los Angeles para o local onde vivemos e vamos reflectir. Falando por mim, o meio onde vivo não é muito grande e multicultural, é um concelho cuja cidade sede é pequena, agradável e acolhedora, e mesmo assim, pode ser o retrato do mundo – que contrastando com esta cidade, é cada vez menos agradável e acolhedor.
Em Hollywood, alguém famoso, defende-se de uma piada através do recurso a uma agressão. Por aí, surgem muitos utilizadores cibernéticos, ansiosos por confinar o humor aos limites que lhes são convenientes, com fulgor no apoio ao gesto e até a mostrarem-se capazes de fazer o mesmo por motivos semelhantes. Há muito tempo que a liberdade de expressão é espezinhada – ou atacada a tiro se estiver representada num jornal satírico francês – e agora levou uma chapada, por causa de uma piada.
No local onde vivo, a cada noite de Sábado, acontece algo que se pode considerar digno de gala de Óscares: há sempre, ou, praticamente, muitas chapadas, murros, cabeçadas, pontapés e até arremessos de garrafas de vidro. Tal como em Hollywood, os motivos são estúpidos e há uma enorme audiência a delirar de entusiasmo com a violência e, provavelmente, a prepararem-se, para quando necessário, ou mesmo sem ser necessário, seguir o exemplo.
Sinto uma evidente estagnação na evolução da nossa racionalidade: uma insuficiência da mesma, cada vez mais clara. Surgem, constantemente, muros e grades, para nos fecharem neste apetite pelo recurso à violência física como resposta a várias situações. Afinal o mundo não é tão diferente em Los Angeles do que é, por exemplo, em Marco de Canaveses. Em ambos os lugares os rastilhos são pequenos.
Cada vez mais, o mundo pertence aos ofendidos e aos tiranos. Os ofendidos pretendem tiranizar todos os que se atreverem a contrariar a sua forma de pensar, aquilo que eles consideram correcto e que é inegociável. Os tiranos antecipam-se aos ofendidos e andam por aí, a invadir países democratas ou a destruir completamente a liberdade das mulheres.
Estou certo que há problemas maiores no mundo do que este tema aqui abordado. Também tenho a certeza que já deveria ser altura de todos crescermos o suficiente e entender que não devemos querer acabar ou silenciar quem diz aquilo que não gostamos ou não estamos dispostos a ouvir. A atitude correcta depende das situações: ou contra argumentamos de forma racional e lógica ou então ignoramos determinados oradores e evitamos ouvir aquilo que nos pode ofender, embora tudo não passe de palavras.
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